Não tenho culpa. Ninguém é culpado. Eu também não pedi para ser quem sou nem para fazer o que faço. Apenas faço. Faço bem feito, por isso ninguém nunca viu meu dedo em ação. Faço no escuro e graças a Zeus tenho boa mira. Meu instrumento de trabalho é pesado, mas eu consigo empunhá-lo de maneira correta, de modo que não me machuco, mas canso. Enquanto uns se assustam, outros não reagem. Eu sempre na ativa, sempre ligado. É cansaço, é um surto, mas eu não paro. Se alguém insiste em me negar o que peço, grito. Comigo é assim: ou dá ou desce, e pra onde você desce é problema seu. Eu não quero fazer mal a ninguém, afinal, ninguém tem culpa, né? Eu só entrego o papel e espero que você entenda, caso contrário... Ainda bem que eu nunca fui preso, sou safo. Quem vive assim tem que livrar o couro senão já eras e não tem volta, Nego. Você se fode.
Eu não tenho culpa. Ninguém é culpado. E quando eu penso que as coisas poderiam ser diferentes, nem melhores, nem piores, me dá uma angústia. Prefiro não pensar. Por mais bondoso que seu seja eu sei que não vou pro céu, se é que ele existe... Eu não vou para onde os bons irão, não vou. Não quero ir. Não mereço isso. Imagina se eu vou tirar a chance de quem merece? Não, isso eu não faço.